quinta-feira, 27 de junho de 2013

Aforismos


Exercício de manipulação e falsificação: criação de uma 'máquina de aforismos':

Antítese forte:
O amor é fogo que arde, a amizade é um bálsamo suave.

Falsos sinónimos:
Morrer de riso é chorar a rir.

Semelhanças fonéticas:
Com a idade vem a saudade e lá atrás ficou a felicidade.


Carla F. e Jorge V.


terça-feira, 25 de junho de 2013

Dias de brasa


Exercício de reduplicação poética a partir de um poema de Hans-Ulrich Treichel (em itálico o original):

Mas que calor!
Meu amor
Esfregamo-nos até doer
Na cama por fazer
Nos lençóis salgados
E gelados
Eterna a hora
E a demora
Em que acordamos
E respiramos
Para através dos
Sempre mudos
Olhos escaldantes
E refrescantes
Olharmos a luz
Que em ti reluz
Amarela suja, a ofuscante
E estonteante
Ausência de árvores.
Duras como mármores.

Ana V. L. e Sandra V.


segunda-feira, 24 de junho de 2013

Sete pisos

Micro-história a partir de um conto de Gabriele Romagnoli (em itálico o original):


“Quero um amor de sete pisos. Encontra-o para mim, se queres o meu coração.” Não disse mais nada, Sha-La. E Jin-Ki partiu em busca de sete pisos de amor para ela.” Comprou-lhe sete rosas brancas, brancas como a neve!
 Sha-la chorou. Há muito tempo que não recordava a neve desde que tinha emigrado.

Delfina Marques e Maria Isabel A.


domingo, 23 de junho de 2013

Roleta russa

Sempre fora um jogador. E um perdedor.
Perdeu até apenas lhe restar jogar a própria vida na roleta russa.
“Aposto que vou perder”, murmurou, enquanto fazia rodar o tambor.
Quando a bala ficou presa no cano da arma, soube que a sua sorte mudara.

Conceição C. 


quinta-feira, 20 de junho de 2013

Tautograma em A

  A Anabela amava agora aquele antigo amigo. Adorava aquela aparência abençoada, a animação abismal, a amabilidade angelical, algo adolescente. Aquela alegria atraía-a ardentemente. Abandonava-se, aberta àqueles abraços acidentais. Admitia arrojadamente arranjar alguém, almejava, ansiava. Agora, astutamente, adaptava-se, aceitava, atraía, agradava. A adrenalina acendia-lhe a alma abnegada, apimentava-lhe arrojadamente a árida atuação anual, afastando-a ante aquele acutilante abatimento, aquecia-lhe ardentemente a ambição, arrancando-a ardilosamente àquele arrefecimento, àquela aspiração asfixiante – assentar, assegurar as aulas, assumir atividades arrojadas, atingir avaliações auspiciosas, aumentos astronómicos… 
  Agradecia a atenção, abastecia-lhe a afetividade, aconchegava-a, acendendo-lhe a adulação adocicada. Adorava as artimanhas aprendidas artisticamente, aplicadas adequadamente. Audácia? Arrebatamento? Atração? Aventura? 
  Apenas aquele adorável amigo adormecido, Anabela amplamente abalada, acanhada ante alusões a alianças alucinantes, alegadas algemas afetivas, afastou-se, admitindo adversidades aparentes, abomináveis abismos abissais. Apavorou-se, atrapalhada. Almejara amor, ambicionara adoração apenas, apegara-se ao apelo amoroso, agora alguém acrescentara alicerces, amarras, aliciantes ainda.   
  Adensando a amargura, afligiu-se, ajeitou adereços, as almofadas, aperfeiçoou acessórios, as alças altas, arranjou algum agasalho. Arranjou-se, alindou-se, aprimorou-se, a amiga aprovaria a apresentação aprofundada, apropriada. Ágil, ativa, arrasadora abandonou aposentos, a alcova, afastando-se.
 Automaticamente, atravessou azinhagas, avenidas, acompanhando adultos alegres, adolescentes animados, agitados até à Associação Académica Alemã. 
 Após almoçar, Anabela afastou-se alheada. Avançou atenta, ansiosa até ao átrio amplo, alongado. Aguardou airosa, agitada apenas, as atividades agendadas antecipadamente. A algazarra absorvia a assistência alvoraçada. 
 Além, abril apressado, adverso, agressivo, apresentava ainda alguns aguaceiros. Abril atirava ativamente ar, água às alturas, acelerando a atmosfera. Acabava apenas, afirmava-se absoluto, amadurecido, agoirento. 
 Acompanhando a Alice, amiga ancestral, andou, atravessou avenidas, aproximou-se ao aquário. Anoitecia, abeirou-se acalorada às acácias, às açucenas. Atrás algumas alamedas apresentavam árvores altas, alguns álamos acompanhando alabastros, acrílicos. Algures, afiguravam-se as arribas agrestes, alaranjadas. Alecrim, alfazema acrescentavam aromas adocicados. Arriscou apreciar a abundante água azul, aonde afluíam animais – as alforrecas acinzentadas, aniladas, as anémonas amarelas, as algas avermelhadas. 
 Altifalantes anónimos antecipavam alaridos, apregoavam acontecimentos, almejando ambientar artificialmente a antecâmara anexa ao auditório. Apresentavam, anunciando alguma antestreia anual, alucinante – algo arrebatador aconteceria. Apenas alguma antevisão, anti-heróis, animais antropomórficos, aparelhos aéreos… agradaria àquele aglomerado apinhado. Aplausos, amplos aplausos apoiam a animação. 
 Após apreciarem anfiteatros, armazéns, alpendres… ambas as amigas assombraram-se, assustaram-se, admiradas, ao averiguarem a adiantada alvorada a acordar abafada. A alva aproximava-se, afugentando algo alegadamente agressivo. Amainava a amálgama amarga, ameaçadora. Amanhecer acontecia acolá, acima, afastando alucinações anteriores. Acomodava-se, agigantava-se. 
 Aclarava, a manhã acordava. 
 - Adeus – acenou aliviada. 
 - Adeus – acudiu a amiga. 

 Elsa M.